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O movimento perfeito e as proibições

« Chuto melhor com a parte de fora do pé. É um hábito, não é uma questão de teimosia

(...) Sai-me naturalmente. É uma coisa que já vem comigo desde sempre.»

Ricardo Quaresma

Lembro-me de uma entrevista que Quaresma deu, onde recordou uma passagem interessante relativamente à sua formação. Relatou um episódio que se centrava na proibição que o seu treinador lhe tinha imposto, na tentativa de eliminar o seu hábito de chutar de trivela.

Dizia o internacional português que o seu treinador, a determinada altura, o proibiu de chutar com a parte de fora do pé.

Este episódio é replicado, imensas vezes, pelos profissionais de futebol, responsáveis pela formação em Portugal.

A existência de um movimento perfeito, algo que se tenta incutir a todos os jogadores, quase como regra não faz sentido num desporto onde a criatividade e o improviso têm tanto a “dizer”.

Já aqui falei, na importância do diagnóstico, para uma correta intervenção no treino de jovens. Imaginemos a seguinte situação:

Um jogador, de 6/7 anos, com sucesso relativo nas ações de passe/remate mas que apresenta limitações técnicas. Observamos atentamente e verificamos que o jovem chuta e passa sempre de “bico”.

Problema: o jogador fica limitado na execução dos passes e remates, necessita sempre de estar de frente para o local onde pretende colocar a bola. Passes e remates com o corpo de lado para os seus colegas ou baliza deixam de fazer parte do seu repertório.

Solução A: Proibir o jogador de executar o movimento (chutar de bico)

Solução B: Criar um contexto de aprendizagem que solicite passes/ remates com um ponto de contacto com a bola diferente.

Observemos o exercício proposto. Nada de muito complexo mas com um objetivo bem claro. Melhorar a qualidade do passe ao nível do ponto de aplicação da bola, promovendo variadas soluções. Para ser bem sucedido, o exercício, exige capacidade de alternar a forma como nos posicionamos para executar o passe e a forma como o fazemos.

Descrição: Situação de 6x2. - 3x1 em cada campo. Os elementos da equipa vermelha tentam colocar a bola nos colegas do outro lado, para o fazerem, o passe tem de ser efetuado através das portas. Os elementos da equipa azul, tentam fechar as portas e recuperar a posse da bola. Sempre que a recuperarem, passam a atacar, trocando de equipa.

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Agora, imaginemos esse mesmo jogador, passados alguns anos, em contexto competitivo, numa situação em que o remate/passe de “bico” fosse solução, nas duas versões:

Solução A: Incapacidade para chutar/passar “de bico”, nem como solução de recurso. Incapacidade de se adaptar às exigências do contexto.

Solução B: Capacidade para chutar/passar “de bico” sempre a situação o justificar, capacidade para adaptar a sua decisão ao contexto, capacidade de improvisação...

Liberdade de decisão.

A hiperbolização da situação, surge, para deixar claro, que podem, de facto, existem atitudes que julgamos benéficas, mas que no fundo prejudicam os nossos jovens jogadores.

O que um treinador de formação deve fazer, é dar o maior número de ferramentas aos seus jogadores para que eles possam decidir consoante aquilo que o jogo lhes apresenta.

Voltando a Quaresma, ainda bem que a sua rebeldia não permitiu que este seu talento fosse castrado. Pena é, que nem todos sejam assim.

Nunca saberemos quantos gestos brilhantes, quantos remates mágicos e quantas ações inovadoras não se terão perdido, só porque não se aproximavam do movimento perfeito...

Bruno Fidalgo

A missão do código Futebolístico: 

 

A paixão pelo jogo guiou-me pelos caminhos da partilha de pensamentos e ideias. 

 

O treino, a análise...tudo ligado, um único objetivo: 

 

Viver o futebol. 

 

 

Bruno Fidalgo

 

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