O regresso do nosso campeonato
Na mesma tarde, quase em simultâneo, assisto a duas entrevistas: uma de André Villas-Boas à TVI 24 e outra de Jorge Jesus à BOLA TV.
A fluidez do discurso do treinador do Zenit encanta. Independentemente da pergunta, a mensagem passa sempre, de forma clara e assertiva. Villas-Boas é mestre na arte de comunicar e não há como negar, essa sua capacidade faz dele melhor treinador.
Do outro lado, observo Jorge Jesus com dificuldades assumidas na forma como se expressa. O discurso é confuso e, facilmente, se perde o sentido que pretende dar às suas declarações. Dizem que para bom entendedor meia palavra basta, mas o público nem sempre é bom entendedor e dizer que "...o futebol total foi a laranja mecânica do Ajax" pode não ser suficiente para que todos o entendam.
Reconheço enormes qualidades a Jorge Jesus. No treino, onde mais importa, é certo que a mensagem passa com outra qualidade, no entanto, a sua forma de comunicar faz dele um treinador menos bom.
Atenção, que a forma de comunicar não se resume ao vocabulário utilizado e à gramática, a forma de comunicar assume importância pela mensagem que se passa para o exterior (adeptos) e também para o interior (jogadores). E é aí que Jesus falha, gravemente, por diversas vezes. Já o fez no passado, e seria importante que não o fizesse este ano.
Podemos desvalorizar a importância do discurso, da postura e da estratégia comunicacional, o que não podemos é deixar de reconhecer que estes fatores podem fazer a diferença.
Nesta fase do ano, onde vemos um FC Porto forte no discurso de reconquista, em crescimento ao nível do modelo de jogo, é necessário que Jesus encontre estabilidade no seu jogo e evite estimular, ainda mais, os adversários.
A saída de Enzo vai trazer dores de cabeça ao técnico encarnado, não existe nenhum jogador com a qualidade do argentino no plantel e isso vai exigir de Jesus algo a que já nos habituou...capacidade de adaptação e reinvenção.
Olho para o SL Benfica e para o FC Porto e vejo dois rivais sozinhos na corrida pelo título, ainda assim as diferenças são enormes naquilo que pode ser a evolução do seu "jogar".
Num exercício algo impreciso e especulativo, tento passar uma ideia, acerca do potencial das duas equipas. (gráfico acima)
Sabemos que o modelo de jogo é algo inalcançável, continuamente incompleto e em constante reformulação, no entanto, existe um caminho, uma forma de jogar que se pretende atingir e um rendimento que se pretende obter.
Analisando as duas equipas entendo que o Benfica de Jesus, já pouco tem por onde melhorar no que ao seu modelo diz respeito. São muitos anos com os mesmo jogadores, no mesmo clube, no mesmo ambiente. O modelo de Jesus é quase um produto acabado e só não roça a meta, pela repetida perda de jogadores influentes.
Do outro lado, temos um Porto em construção...novo treinador, novos jogadores, nova ideia de jogo. Tudo em construção. O modelo do Porto tem muito por onde crescer, não só na evolução da complexidade e qualidade dos princípios, como no crescimento individual dos praticantes. O FC Porto é uma equipa com um enorme potencial e se Lopetegui revelar capacidade para a fazer crescer, o Benfica terá rival até ao fim.
A perda de Brahimi e Aboubakar para as seleções, pode ser prejudicial mas a qualidade no plantel é muita.
Dois caminhos diferentes, um objetivo...um campeonato em aberto.
O Sporting está arredado do título, mas mais do que isso, parece estar sem rumo. Já expressei a minha opinião acerca dos dirigentes que dominam o futebol português. Critico a falta de conhecimento do jogo, do treino e do que pretendem para os seus clubes.
Olho para o Sporting e não entendo o caminho...contrata-se um treinador que pretende uma equipa dominante, que jogue como um grande e depois exige-se a vitória de forma urgente.
São coisas que não encaixam, o futebol de Marco Silva, combina melhor com a grandeza do clube e é, naturalmente, mais difícil de alcançar.
Para se ser um grande, há que traçar objetivos a longo prazo e percorrer o caminho com passos realistas e seguros.
Se Bruno de Carvalho queria resultados no imediato, contratava uma ideia diferente, algo que procurasse eficácia, mesmo que o Sporting se voltasse a confundir com uma equipa pequena.
O problema parece ultrapassar tudo isto e os conflitos internos estão à vista.
Só com enorme perícia a equipa não pagará a fatura.
Este é o nosso campeonato. Está de volta... e ainda bem.
Bruno Fidalgo