Tomada de decisão - Um processo coletivo
A qualidade da tomada de decisão é, claramente, uma das caraterísticas mais apreciadas pelos treinadores nos jogadores, nomeadamente, nos desportos coletivos.
A forma como, neste caso, os futebolistas, resolvem os diversos problemas que o jogo apresenta, é, fundamental, para que exista variabilidade no jogo da equipa.
Dentro de um modelo de jogo, existem diversos princípios que guiam a equipa no processo de tomada de decisão. Estas linhas orientadoras, são fundamentais para organizar o jogo da equipa e tornar coerente o processo de treino.
Os princípios de jogo, são o ínicio de algo que acaba, invariavelmente, por condicionar a ação dos jogadores. A liberdade com que os futebolístas recriam estas ideias, está sempre ligada a um ponto de partida.
Ainda assim, a forma como a ideia se apresenta em campo, dependerá da capacidade que o jogador tem para a por em prática, tornando-a sua.
Há não muito tempo, vi uma crítica, a um analista, que serve como exemplo para explicar o fenómeno da tomada de decisão do ponto de vista global.
O analista em questão, teria afirmado que o jogador "X" não era bom tecnicamente. O crítico, apresentou uma percentagem de passe de cerca de 90% para argumentar o contrário.
No meu entendimento, o processo da tomada de decisão é coletivo, a forma como cada jogador decide dependerá sempre das opções fornecidas pelos colegas de equipa e também do adversários. Existe uma dependência contextual que condicionará sempre a qualidade de decisão do executante.
No exemplo acima, facilmente se percebe que a percentagem de passe de um jogador não depende, única e exclusivamente. da qualidade tecnica do jogado em questão.
O sucesso de um passe, não depende só de quem o executa, a qualidade e quantidade das linhas de passe serão fundamentais, já para não falar que nem todos os passes que chegam a destino são boas decisões. É natural, que numa equipa onde as dinâmicas ofensivas são boas, onde as linhas de passe são mais e melhores, os jogadores sejam mais eficazes. Será a sua qualidade de decisão melhor?
É óbvio, que alguns jogadores têm uma maior capacidade para se adaptarem às diferentes exigências do jogo e por isso tomam melhores decisões, no entanto, o processo de treino, em alto rendimento, deve focar-se, principalmente, na tomada de decisão coletiva, na melhoria das dinâmicas que facilitem a tomada de boas decisões.
Se a melhoria das dinâmicas coletivas não for suficiente para aumentar a percentagem de boas decisões do jogador em questão, então, aí sim, devemos criar, contextos de exercitação que sejam exigentes, para o jogador, do ponto de vista de leitura do jogo e execução. Desta forma estaremos a trabalhar com o método diagnóstico, prescrição e controlo de treino, intervindo, direta e fundamentalmente no jogador alvo.
Pode-se errar porque não se tem capacidade para identificar a melhor escolha ou, simplesmente, porque não se ser capaz de identificar essas hipóteses.
A acertividade das decisões não depende só da aptidão que os jogadores têm para entender o jogo. Por isso, vemos, frequentemente, jogadores que são fenomenais numa equipa e noutra não encontram o sucesso . O jogador pode ser o mesmo, mas as relações que estabelece com a equipa alteram-o, fazendo o seu valor e a qualidade das suas decisões alterar também.
Bruno Fidalgo,