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Salvem a formação, formem dirigentes

Logo pela manhã oiço o relato do problema de uma forma incrivelmente convicta, "...já nem jogam com portugueses, é uma vergonha!". Não me surpreende, é um pensamento maioritário. Um exclamar de indignação, de falta de ligação que os comuns dos adeptos sentem a cada chegada de mais um estrangeiro. Percebo a irritação mas convém aclarar a situação.

Este lado mais nacionalista ignora a actual globalização do futebol, o rendimento desportivo irá ser, salvo raras excepções o principal critério de escolha de um treinador. Dizia, e bem, Jorge Jesus, que não lhe interessa a nacionalidade do jogador, para ele são todos iguais. Não podia estar mais de acordo com a sua análise.

O problema não está em não se jogar com portugueses. Distancio-me bastante da opinião que o jogador português tem menos oportunidades e que não se aposta nele. O problema é a falta de qualidade que apresentam os jogadores portugueses vindos dos escalões jovens. Poderei estar a generalizar, de forma injusta para alguns jovens craques, mas ninguém poderá dizer que um jogador que vem de uma realidade competitiva como a que nacional de juniores apresenta, estará pronto para assumir um papel importante no futebol sénior.

As equipas B's vieram atenuar o problema, é verdade, mas algo continua errado.

Num breve olhar sobre o passado recente da seleção nacional, podemos constatar a falta de novidades nas convocatórias, principalmente a falta de gente que cative e entusiasme como fez Ronaldo em 2004, por exemplo.

Vejo o discurso de treinadores importantes e de dirigentes ligados à federação e a ideia é geral, julgo mesmo ter virado moda: "agora já não se joga futebol na rua!" exclamam quase em coro a cada pergunta relativa ao problema que vive o futebol de formação em Portugal. São criticados os processos de treino e a formatação que é imposta aos jovens futebolistas.

É verdade que estes aspectos são importantes na falta de qualidade no futebol de formação, mas sera só, o alterar destes comportamentos a chave da mudança?

A mentalidade e a forma de operar por parte dos jovens licenciados em Desporto, é , de forma geral, pedagógica. O futebol é estudado e temos condições para realizar um trabalho com mais valias que deviam ser reconhecidas por quem tem interesse no trabalho dos treinadores. Não quero com isto dizer que quem não o é não tenha capacidade ou qualidade para ser um óptimo formador, o que é preciso é que exista a capacidade para distinguir o que é bom ou não para os jogadores que se pretendem formar.

Esta ideia vai de encontro ao que se passa atualmente em diversos clubes portugueses. Os dirigentes, responsáveis pelas escolhas dos treinadores não sabem o que contratam. Não contratam ideias, não contratam metodologias e têm um profundo desconhecimento do que deve ser o futebol de formação.

Num recente seminário sobre futebol, questionei um presidente de um clube da segunda divisão sobre o que o levava a contratar um treinador. Que informações recolhia e o que procurava ao certo. A resposta surgiu de forma natural e descomplexada: "...é principalmente a intuição". Se se escolhe por intuição treinadores no futebol sénior, imagine-se o que acontece no futebol de formação.

É urgente que as pessoas que recrutam treinadores para os escalões jovens saibam o que deve ser feito na formação. Para isso, é fundamental que a Federação lidere um processo de divulgação, de informação e se possivel que forme os dirigentes responsaveis pela formação.

Estes senhores, futebolisticamente ignorantes, estão cortar as pernas a muitos jovens treinadores mas principalmente estão a "matar" os futebolistas. Simplesmente porque não são formados.

Esta falta de conhecimento da realidade formativa é hoje em dia, um enorme problema em Portugal. Enquanto estas pessoas, sem conhecimento e sem vontade de aprender liderarem os departamentos de formação o nosso futuro será sempre cinzento.

Não valerá de nada formar grandes treinadores se não lhes soubermos dar valor.

A missão do código Futebolístico: 

 

A paixão pelo jogo guiou-me pelos caminhos da partilha de pensamentos e ideias. 

 

O treino, a análise...tudo ligado, um único objetivo: 

 

Viver o futebol. 

 

 

Bruno Fidalgo

 

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